domingo, 26 de dezembro de 2010

Reflexão sobre o natal

Ainda sobre o natal, um texto para ser refletido: "Fique bem perto do presépio onde o Salvador das nossas almas nos ensina tantas virtudes por seu silêncio. Mas o que é que Ele nos diz, enquanto fica neste estado? O seu coraçãozinho, palpitando de amor por nós, devia inflamar também o nosso. Veja como Ele leva o nome de você, inscrito no coração, que bate sobre a palha pelo desejo afetuoso do seu crescimento na virtude. Ele não dá nenhum suspiro perante o Pai em que você não tenha parte, nenhuma moção de espírito senão para a felicidade de você. O imã atrai o ferro, uma substância resinosa atrai palha e feno: seja que somos ferro por nossa dureza, seja que somos palha por nossa fraqueza, devemos unir-nos a esse divino Menininho que nos atrai o coração" (SFS – Cartas) 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Reflexão Salesiana - Véspera de Natal - 24 de dezembro de 2010


Esta é a imagem que selecionei para lembrar este Natal de 2010. É uma pintura que se encontra na Catedral de Chieri. Como diz São Francisco de Sales, "que a grande criancinha de Belém seja sempre o encanto e o amor do nosso coração. Peço-te que descanses, da maneira mais cordial possível, junto ao Filhinho celestial. Ele não deixará de amar o nosso coração querido, assim como é." (DASal 5,259)
Feliz Natal a todos!

Esta noite celebramos a véspera do Natal, uma data em que refletimos sobre o mistério do nascimento de Jesus, nosso Senhor e Salvador. São Francisco de Sales oferece-nos os seus pensamentos sobre o Natal:

Quando alguém quer construir uma casa ou um palácio deve primeiro considerar quem é a pessoa que vai morar ali. Obviamente, fará diferentes planos, dependendo do status social da pessoa. Isso também ocorreu com o Arquiteto Divino. Deus criou o mundo preparando-o para o momento da Encarnação do Filho. A sabedoria divina previu desde a eternidade que o Verbo tomaria a nossa natureza em sua chegada à terra. Para realizar essa tarefa, Deus escolheu uma mulher, a Santa Virgem Maria, que deu à luz o nosso Salvador.

Através da encarnação Deus fez-nos ver algo que a mente humana não teria sido capaz de conceber nem compreender. O amor de Deus para a humanidade é tão grande que ele decidiu tornar-se humano para nos encher de Sua divindade. Ele quis coroa-nos com a bondade divina e a dignidade. Ele quis que nós fôssemos filhos de Deus, porque somos feitos à Sua imagem e semelhança.

Nosso Salvador veio a este mundo para nos ensinar como devemos agir para preservar em nós a imagem e a semelhança divina de Deus. Precisamos levar muito a sério esta tarefa e enchermo-nos de ânimo para viver de acordo com aquilo que somos. Nosso Salvador veio para que pudéssemos ter vida em plenitude. Ele estava completamente cheio de misericórdia e bondade para com a família humana.

Muitas vezes, quando a maioria das almas endurecidas chegam ao ponto de viver como se Deus não existisse, Nosso Salvador permite que elas encontrem o seu coração cheio de piedade e misericórdia para com elas. Todos os que já passaram por esta experiência, agradeceram muito por tê-la vivido. Tiremos para fora de nossa casa tudo aquilo que não é de Deus. Quando abrimos nossos corações ao amor de Deus, estaremos contribuindo para o nascimento de Cristo em nós, e também para o estabelecimento do Reino de Deus na terra.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

NATAL - 25 dezembro de 2010

Destaque

"Todos os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus."

Perspectiva Salesiana

"Deus significou-nos de tantas formas e por tantos meios querer que fôssemos todos salvos, que ninguém pode ignorá-lo. Com esta intenção ele nos fez "à Sua imagem e semelhança" pela criação e fez-se à nossa imagem e semelhança pela encarnação; depois da qual sofreu a morte para remir toda a raça dos homes e salvá-la." (Tratado do Amor de Deus, Livro VIII, Capítulo 4)

Desde o começo dos tempos Deus quis que todos nós que conhecemos esta verdade, sejamos salvos. Qual é a verdade? A verdade é que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, compartilhamos a essência da vida divina de Deus, que somos inundados com o amor criador, redentor e inspirador de Deus, que somos feitos para fazer com que o amor e a vida aqui na terra possam crescer, que estamos destinados a experimentar este amor e a vida para sempre no céu.

É claro que a única condição é que escolhamos fazê-lo.

Além das imagens reconfortantes da estrebaria, da "Estrela de Davi," dos Reis Magos, dos pastores e dos coros de anjos, existe uma verdade dura e inevitável: mesmo que Deus deseje que sejamos salvos, a decisão de viver conforme os desejos de Deus é somente nossa. Francisco de Sales salienta: "Nem todos os homens são salvos, mesmo quando a vontade que todos sejam salvos é do único e verdadeiro Deus, porque Deus trabalha em nós de acordo com a condição da natureza humana e divina. A bondade de Deus que nos move para comunicar-nos amplamente a sua graça pode nos ajudar a desfrutar a felicidade da glória de Deus, mas nossa natureza exige que Deus também seja magnânimo no momento de nos dar a liberdade e que a usemos para a nossa salvação ou a ignoraremos, resultando na nossa condenação "(Ibidem)

Com esta reflexão não quero estragar a festa de Natal, ou a promessa de reconciliação, paz e alegria. Tampouco estamos tentando manchar essa época do ano que Francisco de Sales descreveu como "o tempo dedicado a soberana misericórdia que o Filho de Deus teve por nós quando ele veio aqui na terra para salvar a todos nós." (Stopp, Selected Letters , p. 294) Resumindo, o Natal é uma época em que cada um de nós deve perguntar: levo a sério o dom de Jesus Cristo na minha vida tanto quanto Deus o fez? Ou dito de outra forma, eu estou tão interessado na eternidade da minha alma tanto quanto Deus?

Todos os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus que se manifestou através do nascimento do Messias. Espero que todos os confins da terra - incluindo lugares onde você e eu nos encontramos, aceitem este poder.

Esperemos que possamos viver e sejamos capazes de compartilhá-lo.

O P.Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quarto Domingo do Advento (19 de dezembro de 2010)



O Evangelho de hoje recorda-nos que assim como São José, devemos ter confiança no plano que Deus tem para nós. Deus tem um plano para nós que é muito maior que o nosso. São Francisco de Sales observa:

O Evangelho de hoje fala sobre o momento em que José descobre que Maria está grávida. Ele estava disposto a se divorciar, sabendo que o filho não era dele. Mas o anjo revelou a José que o Menino Jesus estava destinado a ser o nosso Salvador. Com muita paz e serenidade de espírito, José aceitou este fato inesperado em sua vida. Nossa confiança em Deus deve ser igual à confiança demonstrada por São José.

Os fundamentos da nossa fé não estão em nós mesmos, mas em Deus. Apesar de estarmos sujeitos a mudanças, Deus se mostra sempre clemente e misericordioso, tanto nos momentos em que somos fracos e imperfeitos, como quando somos fortes e perfeitos. Quando temos absoluta confiança em Nosso Senhor, somos como uma criança no ventre de sua mãe. A criança se deixa carregar e vai onde sua mãe a quer levar. Do mesmo modo, quando amamos a vontade de Deus em tudo aquilo que nos acontece, sentimos a confiança necessária para nos deixarmos conduzir.

Sentir confiança sagrada na bondade de Deus significa vida para o espírito humano. À medida que o nosso amor a Deus aumenta, vamos sentindo as contrações e dores do parto espiritual. Quando temos problemas, Nosso Salvador nos guiará no caminho, não importa o quão difícil seja. Reflita sobre as palavras do Nosso Salvador misericordioso: "Quando uma mulher dá à luz debate-se no meio das dores, mas depois do nascimento se esquece da dor que ela viveu, porque deu à luz um filho." Nossas almas devem dar à luz ao Filho mais amado que uma pessoa poderia desejar. Ele é Jesus, a quem temos que dar forma e trazer para a vida dentro de nós. O Filho vale tudo aquilo que teremos que suportar. Quão felizes seriamos se dedicássemos todos os nossos esforços para cumprir o que Deus quer para nós! Obteríamos da generosidade de Deus tudo aquilo que jamais poderíamos desejar ou necessitar, uma nova e revigorante existência. Um renascimento sagrado em Cristo!

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Destaque

"Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel,”  um nome que significa "Deus está conosco".

Perspectiva Salesiana

São Francisco de Sales escreveu em sua Introdução à vida devota: "Deus está em tudo e em todos os lugares. Não há nenhum lugar ou qualquer coisa que Deus não está realmente presente. Da mesma forma que as aves sempre encontram ar quando estão voando em qualquer lugar, onde quer que formos encontraremos Deus presente. " (Parte II, Capítulo 2)

Deus está conosco. Em nossos melhores momentos sabemos e agimos de forma que proclamamos esta verdade: que Deus está conosco sempre e de todos os modos.

Infelizmente, nem todos os momentos são bons. Nem sempre agimos de forma a convencer os outros sobre a presença contínua de Deus que nos ama sempre e de qualquer modo. Francisco de Sales observou: "Nós todos sabemos desta verdade (que Deus está sempre presente), mas nem todo mundo está realmente consciente disso. Os cegos não sabem quando um príncipe está entre eles e, portanto, não mostram o respeito que mostrariam se fossem informados de sua presença. Ainda assim, como eles não podem ver, eles esquecem a sua presença, e quando isso acontece existe a tendência de esquecer também o respeito e a reverência que é devida ao príncipe. Infelizmente, muitas vezes nos esquecemos de Deus e nos comportamos como se Deus estivesse longe, a grande distância de nós.. Sabemos que Deus está presente em todas as coisas, mas como raramente refletimos sobre esse fato, agimos como se o ignorássemos." (Ibidem)

Como dizem as pessoas, “longe dos olhos, longe do coração”.

Na teoria parece algo simples o fato de tirarmos um tempo para lembrar que Deus está sempre presente, "não só no lugar onde estamos, mas presente também de forma muito especial em seus corações  e na essência de seus espíritos". (Ibid) Quando nos lembramos muitas vezes da presença de Deus, somos mais fiéis na hora de dar o respeito e reverência que ele merece.

Ainda assim e, como muito bem o sabemos, fazer isso na prática é um desafio.

Mas há mais. Na medida em que lembramos a presença de Deus em todas as coisas e em todas as pessoas, seremos capazes de nos relacionar-nos com os outros com o mesmo respeito e com a mesma reverência. Quando nos lembramos de que Deus está conosco, é mais provável que nos tornemos verdadeiros símbolos reais da atividade salvadora, amorosa  e contínua do Emanuel ... o Deus que está conosco.

Vocês ainda estão procurando um presente de natal? Não há necessidade de procurar tanto, basta lembrar a presença de Deus que sempre quer estar conosco, que sempre nos ama... o mesmo Deus que nos chama para ajudar os outros a lembrar que ele ama, é aquele que está sempre presente em nossas vidas.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

3º Domingo do Advento – 12 de dezembro de 2010



As leituras de hoje nos revelam que a missão de salvação de Deus é realizada através de Jesus Cristo, que estabeleceu o reino de Deus na Terra. São Francisco de Sales faz a seguinte observação:

No Evangelho de hoje São João Batista orienta os seus discípulos, não para si mesmo, mas para Jesus. A missão de Jesus era ser o Salvador. Ele como verdadeira luz da justiça iluminou o caminho da Igreja com o esplendor de sua vida. Ele desceu para a humanidade para nos encher de Sua divindade, saciando-nos com a sua bondade, elevando-nos para que fossemos dignos dele, e dando-nos a existência divina dos "filhos de Deus". Ele constantemente levanta o lento e pesado espírito do pobre e humilde, dando-lhes o Seu próprio Espírito para que eles possam realizar grandes coisas.

Nosso Salvador nos ensina que não é suficiente chamar-nos cristãos. Devemos viver de tal modo que os outros possam reconhecer em nós mesmos, sem dúvida, as pessoas que amam a Deus com todo seu coração. Como João Batista, os verdadeiros servos de Deus, fazem uso de suas palavras e ações para guiar os outros ao longo do caminho que conduz a Ele. Preste atenção no exemplo dado por João Batista. Ele nos ensinou que para alcançar o verdadeiro sucesso na vida não devemos atrair os outros na nossa direção, mas em direção a Cristo. Uma vez em Sua companhia, os outros, como nós, devemos aprender a fazer o que for necessário para Seu amor e serviço, a fim de alcançar a estabilidade.

São João Batista era uma rocha inabalável no meio das ondas e das tempestades que geravam aflições. Ele demonstrava alegria tanto no inverno das amarguras como na primavera de paz. Nós, por outro lado somos como juncos que se deixam revolver por qualquer emoção ou mudança em nosso estado de espírito. Deixamos-nos agitar pelos ventos da riqueza, das honras e comodidades. Naquilo que diz respeito às coisas terrenas podemos dizer, "eu tenho uma quantidade moderada, eu tenho o suficiente." Mas, quanto a bênçãos espirituais, nunca teremos o suficiente. Como João Batista, inclinemos nossos corações para receber o amor divino que nosso Salvador deseja dar-nos. É o amor de Deus que permite que levemos o reino de Deus aos outros, para que ali reine a misericórdia, a justiça e a paz.

(Adaptado do livro de Sermões São Francisco de Sales de L. Fiorelli edições)

Perspectiva Salesiana

Destaque: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo.” Alegra-te! Jesus é o verdadeiro Messias, que traz a cura e força para o povo de Deus.

No dia de hoje, tanto o Evangelho de Mateus como o livro do Profeta Isaias falam da promessa da salvação de Deus.

O povo de Deus estava esperando por muito tempo a chegada “daquele" que iria salvá-los do pecado. O povo de Deus esperou por muito tempo a chegada daquele que estabeleceria a aliança de Deus com eles para sempre. Mesmo assim, aqueles que esperavam por tanto tempo a intervenção divina tinham na mente algumas perguntas fundamentais: quando é que virá o Messias? Como saberemos que é ele quando aparecer? Qual será o sentido e o tom de sua mensagem? Quais são os sinais que devemos ter presentes?

A resposta de Jesus é clara e inequívoca: ele lista os sinais que anunciam a chegada do Salvador esperado.

O Messias, que é Jesus, passou a vida resgatando - não condenando - o povo de Deus. Os sinais do ministério de Jesus foram a esperança e a cura. A fonte da mensagem libertadora de Cristo foi o poder e a promessa do amor redentor de Deus.

O Advento recorda-nos que Deus mantém as promessas que faz. O tempo do Advento recorda-nos os sinais do amor libertador, redentor e transformador de Deus, que continuam a se manifestar hoje. O tempo do Advento recorda-nos da nossa própria necessidade de uma conversão – fazer que nossos corações mudem - para que possamos conhecer o poder da esperança para a qual todos somos chamados.

São Francisco de Sales escreveu: "Quem se atreve agora a duvidar da quantidade de meios que temos à nossa disposição para obter a salvação através do nosso grande Salvador, a imagem de quem fomos criados e por cujos méritos fomos resgatados?” (Tratado do Amor de Deus, Livro II, Capítulo 5) Ainda assim, este grande dom vem acompanhado de uma grande responsabilidade. Francisco de Sales é enfático em dizer que Deus trabalha em cada coração humano. É por isso que, como cristãos que somos, nós vivemos no mundo, devemos reconhecer que as nossas relações com os outros são parte integrante do plano contínuo da salvação De Deus. Do ponto de vista do "Santo Cavaleiro", o tempo do Advento nos desafia a fazermos certo aquilo que é fundamental para nós: somos sinais convincentes da presença do Messias? Somos sinais do amor redentor e transformador de Deus? Somos fontes de esperança e cura na vida dos outros?

Muitos de nós iremos investir muito tempo e energia para decorar as nossas casas e os nossos bairros para celebrar o milagre do nascimento de Cristo, a manifestação do poder e da promessa da encarnação do amor de Deus. Um amor personificado na vida, o ministério e a mensagem de Jesus Cristo. Que iremos fazer deliberadamente e conscientemente para decorar a nossa vida com as virtudes que falam da presença do Messias em nossos relacionamentos com os outros? Quando nos encontrarmos com outras pessoas, elas poderão "ver e ouvir" os sinais do Messias?

 P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Francisco estudante em Pádua (6)

No dia 5 de setembro de 1591 doutorou-se em Direito Civil e Canônico na Universidade de Pádua. (In utroque jure) Tinha então 24 anos. Escreve e fala em Francês, Latim, Italiano e compreende grego e hebraico. Depois do doutoramento vai para Loreto.
Francisco voltou para casa (os pais e a família estão refugiados no Castelo de La Thuille, devido a guerra entre Sabóia e França pelo Chablais) como doutor. Chegou feliz, entusiasmado como sempre. Com a mente cheia de conhecimentos úteis, com a vontade fortificada por muitas provas, com a memória enriquecida por valiosas experiências, com o coração intacto, sem manchas, sem corrupção. E com o profundo e irrevogável desejo de fazer-se sacerdote, aconteça o que acontecer. Tem seis irmãos vivos. Cinco morreram. Aguarda-se a nova irmã Joana que virá.        
Ganha de seu pai uma biblioteca Jurídica, montada no Castelo de La Thuille. 





sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Segundo Domingo do Advento - 05 de dezembro de 2010


O Evangelho de hoje nos convida a ouvir João Batista: "Arrependei-vos, preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas". São Francisco de Sales faz os seguintes comentários a respeito desta passagem:

"Endireitai o caminho do Senhor". Os caminhos que tem muitas curvas e dão demasiadas voltas acabam cansando e induzindo ao erro. Nossa vida é cheia de caminhos sinuosos que devemos endireitar em preparação para a vinda de Nosso Senhor. Primeiro temos que corrigir a ambiguidade das nossas intenções e ter uma só: agradar a Deus, mostrando uma mudança de coração. Assim como o marinheiro que mantém os olhos na bússola durante a condução do barco, nós também devemos manter nossos olhos abertos para a penitência, ou seja, para experimentar uma mudança de coração.

Ao aceder a uma mudança de coração, voltamos à imagem e semelhança de Deus em nós. Através do arrependimento, experimentamos a amargura e a dor por termos ofendido a bondade de Deus. Já não seremos escravos das nossas emoções. Nossas inclinações, sentimentos e emoções agora se curvam ao amor de Deus e do próximo. Vemos claramente que arrepender-nos de nossas grandes culpas é um ato perfeitamente razoável, se considerarmos cuidadosamente os benefícios de levar uma vida virtuosa. Todos os atos de arrependimento são realizados em prol da beleza, da honra, da dignidade e da felicidade, para o nosso próprio bem-estar. A mudança de coração nos motiva a ter uma melhor disposição.

Aperfeiçoar a penitência significa alcançar um amor sagrado por Deus que transborda de amor ao próximo. O amor a Deus e o nosso próprio amor vivem em luta constante dentro do nosso coração, o que nos causa grande angústia. O verdadeiro amor próprio está a serviço de Deus. Quando reina o amor divino em nossos corações, dominam todos os outros amores. Em seguida organiza todas as nossas emoções e desejos naturais dentro do plano divino e do serviço. Caminhemos, então, com Deus, como fez João Batista. Assim, iremos nos tornar uma voz que proclama que devemos preparar o caminho e endireitar as estradas para o Senhor, para que, ao  recebê-lo nesta vida possamos desfrutar Dele na próxima.

(Adaptado dos escritos de São Francisco de Sales)

Sugerida Ênfase

"Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará a justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos...”

Perspectiva Salesiana

O texto de hoje do profeta Isaías, está cheio de promessa e de esperança: uma esperança enraizada na promessa de que Deus é justo, que Deus não tem favoritos. Esta promessa é encarnada em Jesus, o Salvador, que está cheio do espírito de Deus, um espírito cheio de sabedoria e entendimento. Esperamos que este mesmo espírito que impulsionou tanto o ministério de Jesus, também nos dê os dons da sabedoria e do entendimento.

Não recebemos os dons divinos da sabedoria e do entendimento por preço baixo. Na verdade, sempre vêm com grandes expectativas: uma, que julguemos os outros "Sem nos basearmos nas aparências ou nos boatos, mas com justiça". Em outras palavras, os seguidores de Jesus - filhos e filhas de Deus, o Criador, Redentor e inspirador, não julgam prematuramente.

São Francisco de Sales escreveu em sua "Introdução à Vida Devota: "Como ofendem a Deus os julgamentos prematuros! São como uma espécie de icterícia espiritual que faz com que todas as coisas pareçam ruins aos olhos de quem está infectada com ela.” (IDV Parte 3, Capítulo 28)

Os julgamentos apressados raramente - quase nunca – são baseados em fatos. Os juízos prematuros se fundamentam nas aparências, nas impressões, nos boatos e fofocas. Os juízos prematuros são feitos num instante (por isso muitas vezes são chamados juízos ‘apressados’) e geralmente são baseadas na emoção, não na razão.

Os juízos prematuros têm pouco a ver com o comportamento de nossos semelhantes, e muito mais a ver com as maquinações e à disposição dos nossos corações. Quando julgamos os outros "apressadamente" o que realmente estamos fazendo é expor nossa arrogância, nosso medo, nosso egoísmo, nossa amargura, nossa inveja, o ressentimento, o nosso ódio, nossa inveja, nossa condescendência para com os outros.

Somente quando julgamos entre nós com justiça seremos capazes de verdadeiramente "viver em perfeita harmonia e de acordo com o espírito de Jesus Cristo." Promover e preservar as nossas relações com "paciência e coragem" só será possível se nos livrarmos desta "Icterícia," de decisões apressadas.

Francisco de Sales escreveu: "Quem quer ser curado (de fazer julgamentos prematuros) deve aplicar remédios, não nos olhos ou no intelecto, mas nas suas afeições. Se suas emoções são amáveis, os julgamentos também o serão." (Ibid)

Crescer em sabedoria e compreensão requer que os nossos juízos sejam justos e que devem ser baseados em fatos, não em ficção, enraizados na sensibilidade, e não nas suspeitas, focados no comportamento e não em preconceitos. Nossos julgamentos devem ser concebidos de verdade, devem estar comprometidos com a justiça e caracterizados pela compaixão.

O P. Michael S. Murray, OSFS é o Diretor do Centro Espiritual de Sales.