sexta-feira, 25 de abril de 2014

Reflexão Salesiana para o segundo domingo de Páscoa - 27 abril de 2014

Destaque: "Ele mostrou-lhes as mãos e o lado."

Perspectiva Salesiana

Na véspera da crucificação e morte de Jesus, os apóstolos estavam trancados com medo. Eles temiam sofrer a mesma punição do seu Mestre.

Mesmo trancados, Jesus se encontra com eles: não só no espaço físico em que se refugiaram. Jesus também entrou em suas mentes e corações. Jesus tenta acalmar seus medos, desafia-os a estar em paz; faz isso de uma maneira mais controversa e misteriosa: mostrando-lhes as feridas em suas mãos e do seu lado.

A experiência da ressurreição não removeu as cicatrizes das feridas que Jesus sofreu. As marcas da dor, da decepção, da incompreensão, da negação, da humilhação, do abandono, do sofrimento e da morte. Mesmo assim, apesar das feridas, a ressurreição de Cristo é uma poderosa demonstração de que a dor, tristeza, sofrimento e injustiça, tão reais como foram, não têm a última palavra. 

São Francisco de Sales escreveu: "Devemos lembrar que nosso Senhor nos salvou através de seu sofrimento e resistência, e que devemos trabalhar por nossa salvação através dos sofrimentos e aflições, suportando as feridas, negações e desconfortos que encontramos. "(Introdução à Vida Devota , Parte III, Capítulo 3) 

Todos nós carregamos as feridas do fracasso, decepção, engano e perda. Nossos corações, nossas mentes, nossas memórias - nossas almas - carregam as cicatrizes como prova disso. Como os apóstolos, também nós temos a tentação de nos afastar dos outros, de nos trancar num canto emocional e espiritual, fazendo o "nosso mundinho", vivendo no medo de que uma nova dor ou uma nova decepção possa chegar até nós. Claro que, ao retirar-nos da vida de uma maneira figurativa - às vezes literalmente - morremos. 

Jesus mostra claramente através de sua própria vida, que as nossas feridas não devem desqualificar-nos ou oprimir-nos. Embora essas feridas possam ser permanentes, não devem roubar-nos o nosso poder e a promessa da recuperação, da renovação - da ressurreição - a menos que nos desesperemos, a menos que nos deixemos vencer pelos cravos da negatividade.

As feridas do nosso passado certamente deixaram marcas em nosso momento presente, mas não determinam o curso do nosso futuro. Se entregue ao amor de Jesus que sabe o que significa ser ferido. Ele nos mostra como continuar a caminhar para além daquilo que nossas feridas e cicatrizes deixaram. São Francisco de Sales escreveu: "Volte seu rosto para Cristo crucificado, nu, blasfemado, caluniado, abandonado e oprimido por todo o cansaço, tristeza, dor e trabalho." Jesus triunfou sobre as feridas de sua humanidade. E assim mesmo, com a ajuda de Deus, nós podemos fazer o mesmo. 

Podemos ter certeza de que a vida pode ser difícil. Como foi no caso de Jesus. Mesmo assim, podemos ser muito mais fortes.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB 

Dos escritos de São Francisco de Sales

Hoje, no momento em que Jesus apareceu aos seus discípulos depois da ressurreição, podemos apreciá-lo ocupando Seu corpo glorioso e imortal. São Francisco de Sales nos diz o seguinte: 

Observe como a fé dos apóstolos de Jesus foi abalada após a Sua crucificação! Todos estão reunidos numa sala a portas fechadas, com medo. Jesus entra, senta-se entre eles e os cumprimenta: A paz esteja convosco. Ele mostra as marcas e os símbolos da reconciliação da humanidade com Deus e diz: observem minhas mãos e o meu lado. Por que faz isso? Para reforçar a sua fé vacilante. Sem a presença de nosso Salvador se sentiriam tímidos, sem forças. É isso que acontece quando você não está com Deus. Eles estavam com medo. Como num navio numa tempestade e sem comandante a bordo; este era o estado deste pobre navio. Nosso Senhor aparece aos discípulos trazendo alívio para os seus medos. 

Que grande alegria, que júbilo experimentaram os Apóstolos quando viram o seu Mestre de novo entre eles. Jesus reafirma sua fé acovardada, reaviva as esperanças apagadas, e ilumina o seu santo amor por Deus. A Fé, a esperança e o amor santo são indispensáveis ​​para nós durante a nossa permanência na terra. Quando estivermos no céu só o amor sagrado irá perdurar. Durante os dias posteriores a Sua ressurreição, especialmente com os seus discípulos e, particularmente, durante a aparição que nos foi narrada no dia de hoje, nosso Salvador se dedica a fazer só uma coisa: mostrar que é preciso crer, ter esperança e amar.

Ele chega para devolver a segurança a este lugar assaltado pelo medo. Ele toma nossas misérias e as enobrece. Precisam de forças?  Aqui estão as minhas mãos. Precisam de um coração? Aqui está o meu. Gentilmente, Seu poder vai nos dando poder. A fé viva reconhece seu poder. Confortados pelo amor sagrado, a fé viva se dedica a servir a Deus com fidelidade. Para permanecermos enraizados na fé, na feliz esperança, e no amor sagrado e fervoroso, no qual poderemos nos alegrar por toda a eternidade.

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales, particularmente Obras: Sermões) 

sábado, 19 de abril de 2014

Reflexão Salesiana para o domingo de páscoa - 20 de abril de 2014


Dos escritos de São Francisco de Sales

Hoje nós experimentamos a vitória de Jesus sobre a morte. Que alegria saber que o amor de Deus é mais forte do que a morte! São Francisco de Sales diz o seguinte: 

A ressurreição de Jesus nos agracia com uma nova vida cheia de glória. Assim era o desejo ardente que existia no coração de nosso doce Salvador, de obter a salvação para nós, que generosamente decidiu compartilhar conosco a sua glória. Em Sua redenção, o amor de nosso Salvador, sendo mais poderoso do que a morte, transborda, derrete nossos corações e transforma-nos. Com a sua chegada a este mundo Ele elevou nossa natureza acima de todos os anjos, e ao ser transformado nos faz tão à Sua imagem e semelhança, que poderíamos chegar até dizer que nos parecemos com Deus. Ao tornar-se um de nós, o nosso Salvador assumiu nossa semelhança e nos deu a Sua. 

Reflitam sobre a natureza que Deus lhes deu. É a maior que existe neste mundo visível. Tem a capacidade de alcançar a vida eterna e estar unida a Deus na perfeição. Como alimentamos esta união? Devemos começar amando a semelhança do Criador divino, primeiro em nós mesmos e, em seguida, nos outros. Quando Maria Madalena foi ao túmulo, não reconheceu o Salvador, porque Ele estava vestido como um jardineiro. Ela não o viu da maneira que queria ver. Por acaso, não é o nosso Salvador, vestido de jardineiro que encontramos durante as provas que enfrentamos todos os dias? Abramos as portas do nosso coração para que o nosso Salvador possa enchê-lo com amor divino. Então, em seguida, poderemos começar a servir ao jardineiro, como Ele deseja que o façamos.

Nosso Salvador anseia para plantar muitas flores em nosso jardim, mas a seu gosto. Nossa tarefa é cultivar bem as nossas almas e atendê-las fielmente. Quando a primavera chega, renova com flores que nos dão alegria. Chegará um dia em que nós também nos elevaremos a uma vida de alegria eterna. A nossa fervorosa aspiração deve ser para alcançar este paraíso encantador. Encaminhemo-nos rumo a esta terra abençoada que nos foi prometida, deixando de lado tudo o que leva ao mau caminho, tudo o que possa atrasar a nossa viagem. Caminhemos, então, no jardim de Jesus ressuscitado. Este é um dia para se alegrar!

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales, especialmente Introdução à vida devota

Destaque: "A morte e a paixão de Nosso Senhor é o motivo mais doce e mais convincente que pode agitar nossos corações nesta vida mortal... Os filhos da cruz se glorificam nisso, seu maravilhoso paradoxo que muitos não entendem: da morte, que devora todas as coisas, originou-se a comida da nossa consolação; Da morte, ele é mais forte do que todas as coisas, originou-se o doce mel do nosso amor." ( Tratado Amor de Deus , Livro 12, capítulo 13)

Perspectiva Salesiana 

Isto, verdadeiramente, é o mistério central da nossa fé.  Jesus deixando-se consumir a si mesmo com paixão pela justiça e pela morte, por sua vez, venceu a morte de uma vez por todas com o poder da promessa de vida eterna. 
O caminho da paixão, a morte e a ressurreição de Cristo foi pessoal: foi único. Foi projetado pelo Pai desde a eternidade. Jesus foi fiel àquilo que Deus projetou para ele; Jesus aceitou sua vocação como o Messias humilde e gentil; Jesus sofreu a dor da morte; Jesus experimentou o poder de ressuscitar. 

Deus projetou um caminho pessoal para cada um de nós desde a eternidade. Cada um de nós desempenha um papel único na revelação eterna da vida eterna, do amor divino, da justiça divina, da paz divina e da reconciliação divina do Pai. Mesmo assim, o caminho para a ressurreição é o caminho da cruz, o caminho da entrega, o caminho do desprendimento, o caminho para deixar de lado todas as coisas, pensamentos, atitudes e ações que nos impedem personificar a paixão de Cristo: a paixão por tudo o que é certo e verdadeiro.

Francisco de Sales oferece esta imagem no Livro 9 do seu Tratado do Amor de Deus : "Mandou o Senhor ao profeta Isaías que se despojasse completamente de todos os vestidos e ele assim o fez caminhando pregando, segundo uns, três dias completos, e segundo outros, durante três anos; depois vestiu-se novamente, quando o prazo fixado pelo Senhor tinha terminado. Nós também precisamos de nos despir de todos os afetos, pequenos e grandes, e sondar muitas vezes o nosso coração para ver se ele estará disposto a despojar-se, como Isaias, de todas as suas vestes, e quando soar a hora, a tomar de novo as afeições convenientes ao serviço da caridade, para podermos morrer na cruz, em inteira nudez, como o nosso divino Salvador e ressuscitar em seguida com Ele num novo homem." 

Devemos ter certeza de uma coisa: devemos "despir-nos" de uma vida passional, da morte diária do eu pessoal, para buscar o nosso próprio bem. Devemos ser purificados, a fim de viver uma vida de paixão e compaixão divina mais fiel e eficaz. Deus não quer que a gente deixe o nosso eu morrer por modéstia, mas que nosso eu morra, de modo que, paradoxalmente, possamos ser quem Ele nos chamou para ser. 

"O amor é poderoso como a morte, como a morte, para nos fazer abandonar tudo; é magnífico como a ressurreição, para nos aureolar de honra e glória.", escreveu São Francisco de Sales. 

Esta glória e honra não está reservada somente para o céu. Na medida em que nós morrermos um pouco a cada dia e experimentarmos a fidelidade do amor de Deus no meio das adversidade, das provações e das dificuldades, poderemos experimentar um pouco da ressurreição a cada dia.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Reflexão Salesiana para o domingo de Ramos - 13 de abril de 2014






















Dos escritos de São Francisco de Sales

Hoje caminhamos com Jesus rumo ao Monte Calvário. Pela sua morte na Cruz, todos nós experimentamos o amor abnegado que Ele sente por nós. Somos também chamados a imitá-lo. São Francisco de Sales diz: 

Contrariando a sabedoria da cultura, os verdadeiros cristãos que buscam a santidade depositam toda a sua perfeição na loucura da cruz. Todos os santos foram sábios na sua loucura de seguir a Jesus. Eles sofreram humilhação e desprezo dos estudiosos, conhecedores da cultura.  Mesmo assim, eles lavaram os pés e as mãos nas águas sagradas do perdão. Nós também devemos limpar nossas obras e os nossos afetos, para glorificar a Deus. 

Assim como os Santos, devemos ir ao Monte Calvário com Nosso Senhor, passar trabalho e suportar perseguições. Quando os problemas externos e internos tomam conta de vocês, façam bons propósitos e, como faria uma mãe que resgata o seu filho do perigo, depositem-nos sobre as feridas do nosso Senhor e peçam que os protejam, tanto a vocês como a eles. Fiquem ai, no abrigo sagrado, e esperem até que a tempestade passe. Com a ajuda de Deus irão progredir bastante. Jesus mostra que não temos poder pelo fato de pecar. Pelo contrário, significa que ficamos indefesos. Mesmo as perseguições que Jesus teve que suportar nas mãos de seus inimigos, não foram suficientemente poderosas para destruir o amor constante e incomparavelmente forte que nosso Salvador sente por todos nós. Este deve ser o amor que devemos ter uns pelos outros: firme, fervoroso, sólido e perseverante.

Quando começamos a amar de modo divino, livramo-nos da nossa vontade, nós nos tornamos como aves migratórias. Então, migramos de um mundo invernal, no qual encontramos corações frios, gelados, para a primavera, onde o amor de Deus é o sol que aquece os corações humanos. Este Fogo Sagrado nos enche de um amor infinito e totalmente entregue. Esse amor nunca vai dizer: "Basta". Nosso Salvador nos amou com um amor tão sincero e perseverante que até mesmo a morte não conseguiu esfriá-lo. O amor divino é mais forte que a morte. Que você possa sempre permanecer ao pé da cruz de nosso Salvador para se alimentar de Seu amor abnegado, ao qual fomos chamados a imitar.

(Adaptado a partir dos escritos de São Francisco de Sales, especialmente Sermões) 

Destaque: "A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo..."

Perspectiva Salesiana

Santa Joana de Chantal, disse o seguinte sobre a paixão de Jesus Cristo: "A Igreja propõe o domingo da Paixão para lembrar os sofrimentos de nosso Salvador... através do qual a nossa redenção foi obtida. Nossa redenção começou desde o instante da adorável concepção do Verbo eterno no ventre da virgem, sua santa Mãe, e foi concluída com a paixão do Salvador. Este domingo lembra que devemos nos preparar, recordando as tribulações e os sofrimentos do nosso Salvador... considerando o que Deus fez por nós, e dando-nos ânimo para que possamos imitá-lo. E, como diz a Escritura, o Filho de Deus entrará na sua glória e em seu reino, depois de passar por uma infinidade de provas e tribulações. E nós estamos enganados se pensamos que poderemos chegar lá de outra forma. Amemos. Amemos nossos pequenos sofrimentos e preparemo-nos considerando os sofrimentos de Nosso Senhor... Lutemos para deixar o nosso amor próprio, as nossas inclinações, tudo o que corrompe a nossa natureza e assim Deus nos permitirá viver uma vida nova, em Sua graça e amor neste mundo e, em seguida, em sua glória para sempre, dando-se a si mesmo como recompensa por nossos pequenos trabalhos. " ( Conferências, XI Exortação, página 117-118)

Santa Joana também nos ajuda a ver que a paixão de Jesus não foi apenas sofrimentos. Mostrou que Ele foi obediente, de mente aberta, e teve confiança na Providência Divina. "É um ponto verdadeiro e da mais elevada e sublime perfeição quando nos entregamos inteiramente, quando abrimos a nossa mente e obedecemos aos eventos da Divina Providência. Nós nos sentiremos felizes se nos entregarmos a Providência, aqui ou a cem milhas. E ainda mais, na Providência teremos mais do prazer de Deus e menos da nossa própria satisfação. Não teria nenhuma consequência se fossemos exaltados ou humilhados, se fossemos guiados por uma mão ou por outra, se sofrêssemos uma seca, ou aridez, ou lamentação, ou privação ou se fôssemos consolados pela Divina Providência e desfrutando Deus. Na verdade, deveríamos manter-nos nas boas mãos do grande Deus como tecido nas mãos de um alfaiate que corta de cem formas para usá-los como quiser, à medida que projeta e sem que nada o distraia ou impeça. Portanto, devemos suportar que a mão poderosa de Deus nos corte, nos esculpa e nos martele de acordo com a sua vontade e desejos, e, assim, tornar-nos pedras dignas para decorar a sua construção ". (Conferência XLI, pp 280 - 281) 

Refletindo sobre a paixão de Jesus, a generosidade de Jesus, a obediência de Jesus, a entrega de Jesus teremos a oportunidade de examinar nossa própria paixão pela justiça, a nossa própria generosidade para com os outros, nossa própria obediência à vontade do Pai e a nossa própria disposição para entregar-nos e para que os nossos corações, nossas mentes e nossas ações possam refletir mais fielmente o amor de Deus que nos convida todos os dias para continuar o ministério de Jesus neste momento no qual estamos vivendo.

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales.
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB

domingo, 6 de abril de 2014

Perspectivas Salesianas 25 - Hospitalidade divina


Certo dia a campainha da nossa porta tocou. Eu olhei e vi que era um homem que nos tinha enganado no passado. Eu achava muito difícil tratar com ele. Não queria abrir a porta porque eu não sabia o que dizer. Minha irmã Margarida me sugeriu que dissesse: "Olá Jesus".
Eu sabia que ela estava certa. Rezei para que a fé me permitisse receber Jesus encarnado naquela pessoa. Talvez este homem ignorasse sua união com Jesus e pessoalmente não poderia agir de outra forma, mas alguém tinha que fazê-lo ver.
Se não via Jesus nele, quem poderia?
Havia uma irmã da Ordem da Visitação em São Luis que tinha tido uma babá quando era pequena, chamada Lulu. Anos mais tarde, quando fui visitar Lulu numa casa de repouso, a irmã lhe recordou como tinha sido difícil sua infância. A anciã Lulu lhe respondeu: "Ah, sim, mas eu também te amei como se você tivesse se comportado como uma boa menina".
Uma coisa é acolher pessoas que gostamos. Mas é completamente diferente dar as boas vindas para aqueles que nos parecem antipáticos.
Jesus é o modelo de hospitalidade: "Vinde a mim todos os que estão com fome e encontrareis descanso." Jesus não está necessariamente oferecendo comida, mas algo a mais. O pão que é Ele mesmo. Jesus oferece hospitalidade quando convém e quando não convém. Jesus oferece hospitalidade tanto para os pecadores, como para os santos, para seus amigos e para seus inimigos.
O sentido de companheirismo de Jesus foi uma das marcas do seu ministério, e isso escandalizou a muitos, porque Ele comia com publicanos e pecadores. Ele era INCLUSIVO. Apesar de tudo, Deus faz chover tanto sobre o bom tanto quanto sobre o mau.
"Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. (1 Jo 4, 20). Poderíamos  acrescentar: "se alguém não acolhe seu próximo a quem vê, como pode clamar ser acolhido por Deus a quem não vê?"
"Faça a tua casa em mim, como eu faço a minha em ti" é uma declaração surpreendente de Jesus sobre a RECIPROCIDADE de ser hospitaleiro para com Deus e Deus conosco. Jesus está batendo na porta  de nossos corações: abrimos nossos corações ao Seu?
Jesus nos diz que devemos ter o mesmo tipo de hospitalidade mútuo, dizendo-nos que acolhendo os outros, estamos acolhendo a Ele. "Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes" (Mateus 25, 40)
O mistério da visitação é um modelo daquilo que cada um de nós deveria ser. Maria, depois de escutar a mensagem do anjo, a aceitou com fé e preparou um lugar em seu ser para esta pessoa inesperada a quem ela daria sua carne e sangue como alimento. Ela meditou (hospitalidade contemplativa) enquanto foi visitar sua prima Isabel. Esta reunião abençoada de receber e ser recebida, de administrar e ser administrada, parece ser mútua. Neste mesmo sentido, o mistério da visitação é um símbolo da igreja e do seu ministério no reino de Deus. Trata-se de dar espaço para os mais necessitados, aos inesperados, alimentando-os com o corpo e sangue de Jesus. De estender a mão aos outros com amor mútuo e juntos louvando a Deus, exigindo uns dos outros a praticar a justiça.
A hospitalidade começa em casa. Devemos ser amáveis e aceitar a nós mesmos, sendo amigáveis com aquelas partes que nós não gostamos no nosso corpo e aprender a respeitar-nos por aquilo que somos: filhos amados de Deus.
Para chegar ao ponto de focar e expressar esse espírito acolhedor do Deus vivo em relação conosco e com os outros, vivemos naquilo que é conhecido na tradição salesiana como o "ponto culminante de nossa alma." Somos chamados a viver no ponto culminante de nossa alma e espírito, amando e acolhendo, apesar daquilo que podemos sentir sobre os outros, ou até conosco mesmos e em qualquer momento.
  A hospitalidade está envolvida na obra de um Deus que muitas vezes não é visto ou sentido.
A inconstância de nossas almas é movida por ventos de paixão e, portanto, são sempre instáveis. Mas temos sempre a liberdade e o poder disponíveis através da graça de Deus, para acolher os outros afetiva e abertamente, sem levar em consideração como nos sentimos a respeito deles. Isso é precisamente viver "em Jesus".
Devemos estar conscientes de nossa superioridade assumida, a acreditar que a nossa própria maneira de sentir, pensar e agir é sempre correta (e que é a única maneira!) e que os modos de ser dos outros parecem bobagens, comuns, e irracionais. Devemos deixar de lado camada após camada de superficialidade (nossos títulos, entretenimentos, cargos, funções na sociedade, raça, cultura, etc) para entrar mais profundamente no coração da nossa própria existência. Aqui podemos verdadeiramente dizer: "Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim."
A Espiritualidade salesiana está relacionada com isto. O que existe entre as pessoas é a essência de fazer viver Jesus. Alguém encontra Deus precisamente com as pessoas e através delas. Portanto, a hospitalidade não é fazer algo bonito ou extraordinário pelos outros. É, de fato, uma forma concreta de prática da paz e da justiça do Deus Uno e Trino, e mostrar algo divino em nosso ato de boas vindas aos outros.
Cada um de nós é a encarnação de Deus. Jesus nos ensina como praticar a hospitalidade. Ao ressuscitar tomou várias aparências: um jardineiro, um peregrino, um pescador. Hoje, vemos sua presença ressuscitada um bilhão de vezes. Damos boas-vindas a Jesus hoje como um homem, uma mulher, uma pessoa idosa, um jovem, um político, um empreendedor, uma pessoa sem-teto, um atleta, introvertido ou extrovertido, um chato, um cego ou deficiente mental, casado, divorciado, gay ou lésbica, preso, viciado,pobre, rico, educado, ignorante, preto, branco? Cada um é um ser vivo vivendo interiormente uma aparência exterior. Dê boas-vindas a cada um e diga: "Oi, Jesus!"
Lembre-se: hospitalidade divina é para todos... não apenas para alguns favoritos.

Para refletir:

1. Sou uma pessoa acolhedora?
2. Acolho a Deus em tudo na minha vida, e não apenas em parte dela?
3. Sou muito acolhedor com os outros?
4. Dou as boas-vindas somente para aquele que gosto?
5. Como recebo as pessoas que me são impertinentes, difíceis de tratar ou incômodas?
6. Neste momento, quais são as pessoas em minha vida que tem mais necessidade de serem acolhidas?
7. Agora mesmo, que aspectos da minha vida mais precisam de hospitalidade?
8. Quando aceito a hospitalidade dos outros, sou amigável?

Para rezar:

“Meu Deus, eu te entrego esta ação. Concede-me a graça de realizá-la da melhor maneira possível aos teus olhos. Desde já te ofereço todo bem que eu possa fazer. Que eu aceite qualquer dificuldade que possa encontrar no meu caminho.”

Textos bíblicos

1 Tm 3, 1-2
1 Eis uma coisa certa: quem aspira ao episcopado, saiba que está desejando uma função sublime. 2 Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar.
Tt 1, 8-9

8 Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, 9 firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem.

Rm 12, 9-13

9 Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. 10 Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros. 11 Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor. 12 Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração.
13 Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade.

1 Pd 4, 7-11

7 O fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, prudentes e vigiai na oração. 8 Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (Pr 10,12). 9 Exercei a hospitalidade uns para com os outros, sem murmuração. 10 Como bons dispensadores das diversas graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu: 11 a palavra, para anunciar as mensagens de Deus; um ministério, para exercê-lo com uma força divina, a fim de que em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo. A ele seja dada a glória e o poder por toda a eternidade! Amém.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Reflexão para o quinto Domingo da Quaresma - 06 de abril de 2014


























Destaque: "Porei o meu Espírito em vocês para que possam viver." "Vocês estão no Espírito, porque o Espírito de Deus mora em vós."

Dos escritos de São Francisco de Sales

Hoje, enquanto Jesus ressuscita Lázaro dentre os mortos, chama-nos a viver e acreditar n'Ele. São Francisco de Sales explica o que significa viver no Espírito de Jesus:

Jesus deseja devolver a vida para aqueles que já morreram, a fim de dar testemunho do amor de Deus por nós. Ele se dirige àqueles que estão morrendo por causa do pecado, para reiterar que todos nós podemos ouvir a voz de Deus através do espírito. O Espírito nos desperta suavemente para uma nova vida humana. Não importa o quanto nossos corações estão enfraquecidos por causa do pecado, o Espírito os fortalece com um amor santo que é reparador e revigorante. O Espírito Santo é como uma fonte de água viva que flui em cada parte dos nossos corações, para poder espalhar neles o amor divino.

Todos os nossos afetos seguem o amor. No amor desejamos, nos alegramos, sentimos esperança e desespero, medo, ódio, evitamos coisas, nos sentimos tristes, nos enojamos com a raiva, e nos alegramos. O amor é o fundamento da nossa vida vivida no Espírito de Jesus. Quando reina o amor divino em nossos corações, transforma todos os afetos que escolhemos para que desta forma possamos viver, andar e trabalhar no Espírito de Jesus. O Espírito não tem nenhuma intenção de entrar em nossos corações, sem a nossa permissão. Ele nos  inundará com o amor divino somente se tiver a nossa cooperação. Então, o que devemos fazer para nutrir nosso espírito, de tal forma que o Espírito de Jesus possa habitar nele? Quando permitimos que seja a razão que guie nossos desejos, sentimentos e emoções, estamos vivendo o "espírito". Ao contrário, vivemos na "carne", quando permitimos que nossos desejos, sentimentos e emoções determinem nossas ações. Escolhamos sem ambiguidade alguma a vida no espírito. 

Quando um paciente toma apenas uma parte do remédio necessário, cura-se pela metade. Assim acontece com o amor de Deus. Na medida em que estivermos de acordo em aceitá-la nas nossas vidas, o Espírito Santo nos enche de amor. Portanto, não só devemos estar preparados para receber o amor de Deus nas portas dos nossos corações, como também devemos recebê-lo com pleno consentimento. Precisamos nutrir este amor, guiados pela sagrada razão e sabedoria. Completamente impregnados pelo amor do Espírito, nossos corações nos impelem a realizar atos sagrados que, gradualmente, nos aproximam da glória imortal. Aceitemos uma nova vida humana no Espírito de Jesus, que nos eleva em direção à glória eterna. 

(Do Tratado do Amor de Deus) 

Perspectiva Salesiana

Em vez de falar sobre o que Francisco de Sales disse sobre a vida no Espírito de Deus, veja o que ele escreveu sobre o assunto.

"Viver conforme o espírito significa pensar, falar e agir conforme as virtudes que residem no espírito e não de acordo com os sentidos e sentimentos que residem na carne. Temos que aprender a dominar e usar estes últimos e não viver de acordo com eles; mas as virtudes espirituais devem ser cultivadas e tudo deve estar sujeito a elas." 

"Quais são as virtudes do espírito? Existe a fé que nos mostra certas verdades que não são acessíveis aos sentidos; a esperança que nos faz lutar para conseguir as coisas que não podemos ver;  a caridade, que nos faz amar a Deus sobre todas as coisas e aos outros, tanto como a nós mesmos, não com um amor sensual, natural ou egoísta, mas com um amor que é puro, firme, que nunca muda e é baseado em Deus."

"O espírito que depende da fé, cresce em coragem quando rodeado por dificuldades porque sabe muito bem que Deus ama, apoia e ajuda aos necessitados, desde que coloquem sua esperança em Deus. A razão humana, ao contrário, quer saber tudo o que acontece, porque imagina que se não tem nada a dizer sobre alguma coisa, significa que esta coisa não é boa; o espírito, ao contrário, se agarra em Deus e muitas vezes argumenta que qualquer coisa que não seja de Deus, realmente não importa..."

"Viver conforme o espírito significa fazer as coisas que o Espírito de Deus nos chama a fazer, dizendo as palavras e pensando os pensamentos de Deus. E quando eu escrevo "dizendo as palavras e pensando os pensamentos que Deus quer", me refiro aos pensamentos e palavras controlados por nossa vontade. Eu me sinto tão triste, e por isso não me sinto com vontade de falar: o mesmo fazem os papagaios. Eu me sinto triste, mas, como a caridade exige que eu fale o farei. Isso é o que as pessoas que vivem no espírito fazem. Eu fui desprezado e alegro-me: isto é o que os apóstolos fizeram. Então, viver segundo o espírito é fazer o que a fé, a esperança e a caridade nos ensinam a fazer, tanto para as coisas temporais como para as coisas espirituais."

"Viver totalmente no Espírito;  viver gentilmente e de forma pacífica. Tenham confiança que Deus irá ajudá-los, e que em tudo o que acontece, vocês descansam nos braços misericordiosos e bondosos de Deus. Que Deus esteja sempre com vocês."

O Espírito está vivo em nós, ativo em nossas vidas, molda nossas atitudes, nossas ações. Isto é óbvio para todas aquelas pessoas que encontramos diariamente. Ou não? 

(Estas citações foram tomadas inteiramente de uma carta escrita em abril ou maio de 1616 à Irmã Marie-Aimee Bloney, Mestre de Noviças da Visitação de Lyon, França. Podem ser encontrada nas cartas selecionadas de São Francisco de Sales. Traduzidas, com uma introdução, por Elisabeth Stopp. Publicadas em 1960 por Harper & Brothers)

P. Michael S. Murray, OSFS - Diretor do Centro de Espiritualidade de Sales
Tradução e adaptação: P. Tarcizio Paulo Odelli - SDB